Panini - O mundo dos cromos III

 

O acordo de exclusividade do SJPF com a Panini mantém-se até aos nossos dias e apenas algumas edições piratas, e outras variantes, de modo especial publicadas pelos jornais desportivos diários, vieram quebrar a monotonia editorial das colecções de cromos e cadernetas. É certo que a Panini trouxe uma nova qualidade gráfica, rompendo com algum convencionalismo que existia até então, mas hoje, volvidos quase 20 anos após o início desse período de reinado da editora italiana, é opinião concensual que a componente do coleccionismo de cromos ficou bastante empobrecida, pelos motivos atrás expostos.

Por outro lado, os efeitos deste monopólio traduziram-se também na repetição enfadonha do mesmo estilo Panini, ou seja, com boa qualidade gráfica, até demasiado extravagante, mas sem grandes inovações, insistindo quase sempre na representação em meio-corpo, um estilo retratista e pouco futebolista. Um cromo de futebol no seu esplendor deveria ser de corpo-inteiro, de modo a ser representado o equipamento na sua totalidade (meias, calções e camisola).

Nesta altura, os acérrimos coleccionadores e apreciadores de cromos de futebol, cujo movimento tem vindo a crescer, fruto de uma ampla divulgação ao nível da Internet (proliferam as páginas e blogues dedicados aos cromos), desejariam, com alguma nostalgia, que o estilo regredisse um pouco aos anos 70. A prova disso é que os cromos de caramelos, característicos do mercado de cromos dos anos 40, 50 e 60, principalmente, têm hoje enorme êxito e apreciadores, tornando-se assim em objectos de culto e até excessivamente caros, o que não é de admirar tendo em conta a sua raridade. Um cromo solto vale em média 1 euro e uma caderneta, até mesmo incompleta, pode valer entre os 250 e 1000 euros, dependendo da sua antiguidade, estado de conservação e grau de preenchimento.

Por tudo isto, a Panini vai continuar a imperar em Portugal e na Europa, protegida pelos chorudos contratos que em muito devem agradar aos jogadores profissionais e à sua representante da classe.

Quanto aos coleccionadores dos cromos têm que se contentar com essa pobreza quanto à diversidade e aguardar pelas colecções imaginativas produzidas pelos jornais desportivos.

Se calhar está na altura dos coleccionadores se juntarem numa Associação e também eles fazerem valer os seus interesses já que de um modo geral é notório o descontentamento com algumas políticas editoriais da Panini.

Veja-se o caso particular das últimas colecções da Liga Portuguesa de Futebol, com excessivo número de cromos, resultando num produto relativamente caro. Por outro lado, o esquema de cromos Bis e Últimas Transferências só servem para complicar e encarecer ainda mais a colecção.

Atente-se ainda no caso da colecção do Euro 2008, com um total de 535 cromos, demasiado extensa, ainda por cima sem qualquer rigor na edição dos cromos. Ditaram as leis e prazos do mercado e do marketing, pelo que a Panini armou-se em seleccionadora das diversas equipas nacionais, publicando antecipadamente jogadores que acabaram por não ser convocados nos vários países participantes.  No caso de Portugal aconteceu com os jogadores Maniche e Tiago, que fizeram parte da colecção mas não foram convocados por Scolari. Para remediar a situação, depois de uma figura triste, a Panini, editou posteriormente os dois cromos substitutos, os chamados Bis ou upgrades, usando uma terminologia informática, com os jogadores João Moutinho e Raul Meireles. Para agravar a situação, fez isso apenas por cada país. Ora sendo uma colecção de âmbito internacional, editada simultaneamente nos vários países, deveriam ser disponibilizados também simultaneamente, em cada mercado, a totalidade dos cromos de substituição. Um bom coleccionador sabe que só desse modo é considerada completa a colecção. Como resultado dessa negativa política para os coleccionadores, o conjunto de todos os cromos substitutos têm aparecido à venda por valores acima dos 25 euros, o que a juntar ao custo da colecção é francamente excessivo.

Por outro lado, ainda em relação à caderneta do Euro 2008, foi adoptado um preço ao nível dos recursos de outros países europeus, pelo que para Portugal a colecção ficou extremamente cara. É uma questão de fazer contas. A colecção é composta por 535 cromos. Ora só para 500 cromos, não contando com repetidos, são necessários 60 euros. Acontece que a Panini é conhecida pela alta percentagem de cromos repetidos em cada caixa. No meu caso particular, em várias caixas que tenho adquirido, a média situou-se nos 25%. De grosso modo, por barato e aproveitando bem os fóruns de trocas, e mesmo aqui gasta-se dinheiro com envelopes enviados pelo Correio, a colecção nunca fica por menos de 80 euros, o que diga-se, é muito dinheiro para uma colecção de cromos em Portugal.

São estas artimanhas e desenrascanços editoriais que alimentam um grande descontentamento dos coleccionadores para com a Panini.

Seria bom que a empresa respeitasse mais os coleccionadores consumidores de cromos, indo de encontro às suas legítimas preocupações e tendo em conta o custo e nível de vida de cada país.

Pese todos estes aspectos negativos, e que são muitos, é incontornável o peso e importância da Panini no contexto da edição e coleccionismo de cromos, tanto de futebol como extra-futebol, não só em Portugal como no resto do mundo, com excepção de alguns redutos, como é o caso da Inglaterra onde domina a concorrente Merlin, que é reconhecida pela superior qualidade relativamente à Panini, mesmo ao nível de colecções extra-futebol.

- Capas das cadernetas já editadas pela Panini, relativas ao campeonato principal do futebol português:

panini 1991_1992

panini 1992_1993

panini 1993_1994

panini 1994_1995

panini 1995_1996

panini 1996_1997

panini 1997_1998

panini 1998_1999

panini 1999_2000

panini 2000_2001

panini 2001_2002

panini 2002_2003

panini 2003_2004

panini 2004_2005

panini 2005_2006

panini 2006_2007

panini 2007_2008

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