DOMINGO DE OUTONO
Voltei a subir aos montes da minha infância
E percorri velhos caminhos,
Trilhos de sombras e murmúrios das águas.A brisa dos meus passos quando menino,
Afagou de leve o meus rosto de homem,
Deixando neblina na forma de lágrimas.Calcorreei tojo, silvados e subi ao velho carvalho,
Brinquei às escondidas na sua gasta folhagem
Tão quente como as suas cores.Ouvi os gracejos do melro preto
E avistei o pisco de peito ruivo.
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É de facto uma emoção redobrada e sentida, sempre que percorremos caminhos e lugares que noutros tempos foram palcos das nossas brincadeiras de criança. A distância do tempo ajuda a sedimentar essa emoção e nostalgia.
Este local a que me refiro, neste meu simples poema, uma espécie de paraíso perdido, no fundo da minha aldeia, todo ele emana memórias e recordações: Os caminhos, os campos, os pinhais, a ribeira, as nascentes de água, a represa, o moinho de água, as levadas, os velhos carvalhos, os castanheiros, as cerejeiras e macieiras, os melros, os piscos, os cucos, as poupas, as rolas, os pombos, os seus ninhos e seus chilreios, são elementos inesquecíveis e que, apesar dos anos e do aspecto de abandonado, permanecem ali, como que a convidar ao regresso, ao trabalho duro do campo, é certo, mas também às folias, aos jogos, às escondidas, ao apanha, ao nadar na represa de água tão fria quanto límpida e à construção das cabanas num renque de árvores.
Mas não...Há por ali um sentimento de mera nostalgia e ao mesmo tempo um sentimento de comoção por algo que se perdeu e apenas revive na memória. A morte do local, desse pequeno paraíso, é irreversível quanto a impiedosa abertura de uma nova auto-estrada, que inexoravelmente vai rasgar aquelas entranhas, bem por cima da represa, bem por cima do moinho, bem por cima das nossas mais puras recordações.
Mas a memória tem o dom e o condão de ressuscitar esses momentos, de condensar esses istantes, esses lugares e como tal viverão dentro de nós para sempre. As fotografias que fui colhendo vão dar uma ajuda.
Nunca se faça
ResponderEliminarMal a um ninho,
A linda graça
Dum passarinho !
...é verdade.
ResponderEliminarJá dizia Afonso Lopes Vieira