O “assalto”, foi combinada previamente por mim, por um dos meus irmãos e por mais dois ou três amigos. Não teve mapa esquemático, é certo, mas obedeceu a algum rigor no planeamento em que cada elemento do "gangue" tinha uma função específica.
Para além de duas cervejas, uma Sagres e uma Cergal, a empreitada rendeu ainda duas laranjadas de litro da "Gruta da Lomba".
Depois de consumado o "assalto", fomos beber o espólio para um local escondido num pinhal vizinho. As laranjadas foram rapidamente emborcadas até à última gota. Já as cervejas não mereceram a aprovação do grupo pois eram demasiado amargas, pelo que, supunha-se, "deviam estar estragadas". Ainda houve quem fosse a casa gamar na despensa da mãe um quilo de açúcar amarelo, que se misturou à fartazana, mas nem assim a cerveja se mostrou tragável. Resultado, o verdadeiro gosto pela cerveja, que se aprende a gostar, e cuja sede se deseja, como diz o reclame acima, só chegou mais tarde, quase na maioridade. Ainda bem. Pouparam-se algumas pielas.
Importa acrescentar que o "assalto" foi logo detectado porque algum delator no grupo deu com a língua nos dentes" pelo que, para além de reparado o prejuízo em dinheiro vivo, cada um apanhou uma valente coça paternal daquelas que, hoje em dia, davam para colocar os pais na prisão acusados de violência e maus tratos a menores. Verdade se diga, foi uma boa lição, daquelas que se aprendem e jamais esquecem. Por vezes penso que se alguns dos modernos criminosos apanhassem ao primeiro delito uma daquelas valentes tareias, tinham mudado logo ali os seus destinos de criminosos. Hoje poderiam ser excelentes administradores de bancos ou directores de empresas e institutos públicos, quiçá até membros do Governo da nação ou deputados da Assembleia da República. Digo eu…
Quanto à laranjada, marca "Gruta da Lomba", era produzida por uma fábrica, situada em Guetim - Espinho, que ainda hoje se mantém em produção. Na altura era de muito boa qualidade e vendia-se em garrafas de litro, de vidro, com rótulo pirogravado.
Bons tempos!