Festa da Senhora D´Agonia

 

 

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Estive ontem em Viana do Castelo, no segundo dia das Festas da Senhora D´ Agonia.
Comparativamente ao que tinha visto há já há alguns anos, fiquei terrivelmente decepcionado. Não duvido que seja uma das maiores e populares romarias deste nosso Portugal, mas, como seria de esperar, a massificação transformou este evento em algo demasiado confuso, descaracterizado, até.

A organização espera um milhão de visitantes e certamente a avaliar pelo dia de ontem, o número até será superior, e disso parece fazer alarde. Todavia, pelo que se viu, em rigor não tem condições de receber condignamente um terço dessa quantidade.
O  parque da cidade, onde habitualmente é proibido acampar, transformou-se numa espécie de Woodstock pejado de portugueses típicos com tendas montadas e caravanas estacionadas com dias de antecedência, com gente a dormir e a comer em tudo quanto é sítio, com artistas a churrascar febras e a assar sardinhas no meio do acampamento, incomodando tudo e todos, numa aparente indiferença; Os carros a ocuparem os passeios e zonas relvadas; O trânsito caótico e sem espaços adequados para as dezenas de autocarros; Os sanitários portáteis, em plástico, a tresandarem a imundície num largo raio de distância; Os sacos de lixo a abarrotarem sem sinais de limpeza e sem capacidade de recolha diferenciada.

O trânsito, como já referi, caótico e pouco limitado, tornando a travessia entre a zona marginal e a zona interior da baixa uma autêntica e constante acrobacia. Apesar desta desorganização, aparentemente organizada, não se via nem um polícia. Aliás em toda a cidade, não vi mais do que meia dúzia de agentes.

Um familiar teve um pequeno acidente no parque, esfarrapando um joelho e foi impossível descobrir uma farmácia de serviço, ou um posto de bombeiros ou da Cruz Vermelha.


A procissão da Senhora da Agonia, o momento alto do programa do Sábado, é certamente um bonito espectáculo visual, sobretudo o seu percurso no rio Lima, quando vinda do mar se dirige até à ponte metálica e ali dá a volta. De resto, acreditamos que a componente da devoção exista sobretudo nas gentes da ribeira da cidade, mas no resto é um mero espectáculo, um mero folclore, com barcos alugados aos visitantes, embarcações de recreio e muitas motos de água.

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Mesmo durante a missa, pelas 14:30, que foi campal devido à enorme multidão, era notória a pouca devoção da maior parte das pessoas, inclusive com vendedores de banha da cobra e seringadores a rondar e a abordar as pessoas, no que me fizeram recordar os vendilhões do templo. A cerca de 100 metros da zona da igreja e durante a missa, ía tocando a Banda de Música da Pocariça, perturbando nitidamente o desenrolar da cerimónia religiosa.


Sinceramente, toda esta romaria é uma orgia de confusão, onde a componente religiosa, a sua génese, está totalmente abafada e subvertida ao visual, ao barulho.

Até mesmo os famosos tapetes floridos de algumas ruas, afinal não são de flores, mas sim de sal colorido. É verdade que a execução dos mesmos comporta muito trabalho e dedicação mas quanto à arte, não nos parece que seja por aí além, já que todo o processo é repetido com moldes, a exigirem menos arte paciência como é o caso do uso de flores e pétalas.

Algumas das ruas estão transformadas em espécies de sambódromos com bancadas para se assistir à procissão. Vão longe os tempos em que as procissões eram algo para nelas se participar. Agora são um mero desfile folclórico, um espectáculo para as massas e para as objectivas dos milhares de fotógrafos.

As igrejas, locais de silêncio, estão pejadas de gente a fotografar e a falar alto sem a mínima decência. Entra-se na igreja como quem entre numa tasca ou num campo de futebol. Onde deveria haver alguma tranquilidade, aparecem os vendedores de chapéus, de águas, de peúgas e toalhas, berrando a sete pulmões num frenesim de malucos. As praças inundadas com vendedores de balões e pensos, pedintes prostrados nas praças exibindo macabramente as suas deficiências (uns sem pernas, outros sem braços) como chamariz para a piedosa pedinchisse.

As lojas, sempre a facturar, é certo, mas no grosso vendendo chinesices, mesmo que na forma das tradicionais peças do traje vianês, como as camisas de linho bordadas, saias, coletes, xailes, etç. Escapavam algumas tendas  na Feira de Artesanato.

Pode parecer negativista esta nossa análise mas de facto, dada a dimensão, prestígio e popularidade da romaria, a organização deveria ser mais rigorosa de modo a minimizar os inconvenientes dos inevitáveis afluxos descontrolados dos visitantes. Ora esta organização nunca foi visível em toda a vasta extensão da romaria, tanto na zona histórica como na zona marginal e parques. Não basta publicitar o evento e chamar as pessoas à cidade; É necessário criar e oferecer as condições adequadas nos diferentes aspectos de logística, tanto no estacionamento e trânsito como na segurança. saúde e higiene.

É sempre interessante regressar à bela Viana do Castelo, mas é de evitar fazê-lo nestes dias, próprios de loucos, uma autêntica agonia.

Comentários

  1. o senhor nao deve e de ter algo tao belo como viana do castelo no sitio onde mora...

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  2. e como tem que aprovar o comentario nao o vai aceitar porque nao lhe interessa.

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