A lousa de escrever (letras e máguas)

santa nostalgia lousa de escrever

Um dos objectos fortemente associados à nossa passagem pela escola primária, principalmente à primeira classe, é sem dúvida alguma a "lousa", também conhecida como "lousa de escrever" ou "quadro negro". Refiro-me não ao clássico quadro, grande e rectangular, também de lousa e negro, afixado na parede frontal, onde todos eram chamados a efectuar os mais diversos exercícios, sempre com medo dos castigos dos professores rigorosos e implacáveis, e nessa altura eram quase todos, e ainda do escárnio da turma, mas sim à pequena lousa, de uso particular, com o tamanho mais ou menos de um livro e na qual praticávamos as primeiras letras e resolviamos as primeiras contas da bicuda aritmética.

A lousa era acima de tudo uma forma de se poupar gastos com lápis e papel aos pais, invariavelmente quase todos pobres. Por outro lado permitia as constantes correcções apagando-se o que estava mal (quase sempre).
Infelizmente, o uso diário da lousa tinha vários inconvenientes: Desde logo a sua fragilidade, imprópria às brincadeiras e lutas da criançada a caminho da escola, principalmente dos rapazes. Por isso não raras vezes era ver a malta a fazer os exercícios de escrita em lousas todas fragmentadas e até com bocados em falta como velhos desdentados; Por outro lado, com o uso constante, e alguns tinham a mão pesada, a lousa começava a ficar sulcada pelo que tornava-se difícil escrever e até ler a partir dela; Depois, e isso era norma, os métodos da apagar ou safar, não eram os mais convenientes à limpeza e higiene. Usava-se assim as mangas para limpar, a própria mão e o recurso geral ao cuspo para recuperar o fundo negro.

Os lápis de escrever na lousa também eram do próprio material e também muito frágeis, pelo que era raro alguém manter os mesmos originais. O recurso, era pois, escrever com pequenos bocados com 3 e 4 cm de comprimento. Para colmatar esta falha, havia quem recorresse a pregos. Funcionava, é claro, mas a lousa era maltratada e em pouco tempo ficava com profundos sulcos como as rugas no rosto de uma octogenária.
Resta acrescentar que, norma geral, a rapaziada com a lousa assim maltratada era alvo de duplo castigo: Pelo professor e pelos pais.
Toma que é para aprenderes...
Actualmente, e desde há muito, a lousa tornou-se num objecto meramente decorativo e nostálgico, podendo ser ainda adquirido em diversas lojas de artesanato. Foi substituída por uma vasta panóplia de sebentas e cadernos e por agora a norma até é escrever nos próprios livros. Entretanto, mesmo no ensino primário, serão vulgarizados os quadros electrónicos onde se pode escrever digitalmente, Palm Tops, etc, etc.
Outros tempos, outros meios.

Comentários

  1. Fantástico post e belas recordações. Parabéns pelo espaço.

    Teresa

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  2. Recentemente, ganhei uma pequena lousa de uma senhora de 67 anos que fora de sua tia.
    É muito linda!

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  3. joaq. tavares29/06/11, 16:40

    tenho uma empresa onde aínda faço 3.000 a 4.000 destas lousas por dia.

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  4. Caro Joaq. Tavares, estou interessada em comprar algumas dessas lousas, como posso fazer? Se puder responder para anoliv@yahoo.com agradecia

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  5. Pois é, SN, como percebeu acima, ainda hoje o Sr. joaq.tavares industrializa e vende esse material. Interessante, é como se atualmente ainda escrevêssemos em pergaminhos. Brincadeiras a parte, mas, adorei o seu artigo.

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  6. Voltei à infância! Adorei!

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