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 bucha e estica santa nostalgia

Hoje em dia é concensual a ideia de que vivemos numa pequena aldeia global. A internet, uma tecnologia de comunicação e informação, veio materializar esta realidade. Neste sentido, o conhecimento e a partilha de informação e conhecimento está ao alcançe de um simples clique.


Apesar desta globalização, desta pseudo-aproximação, o certo é que se traduz numa relação fundamentalmente virtual. Estamos demasiado próximos, separados apenas por uma janela em forma de ecrã, mas na realidade nunca estivemos tão distantes, pelo menos em termos de afectividades e sua partilha. 
Actualmente as pessoas têm uma vida com círculos de relações muito compartimentadas. Vivemos num prédio  onde habitam 100 ou 200 pessoas mas não conhecemos nem nos relacionamentos com ninguém. Quando muito, com os vizinhos do lado porque inevitavelmente nos encontramos à saída ou à entrada da escada ou do elevador. Por conseguinte, somos desconhecidos e agimos como isso.


Neste contexto, hoje quase não nos cumprimentamos nem nos saudámos. Fora do ciclo rotineiro da casa, da família, da escola e do emprego, ninguém cumprimenta um desconhecido. Quando na rua nos cruzamos com um qualquer estranho, ou mesmo conhecido mas sem qualquer grau de confiança, não somos capazes de lhe dizer um "bom dia" ou um simples "olá". Nem um simples olhar directo ou sorriso. A maior parte das vezes olhamos para o chão ou até desviamos caminho ou paramos a olhar para o lado a fingir que estamos distraídos.
Esta situação, obviamente, tende a agravar-se, porque com o permanente clima de insegurança, ninguém confia em ninguém e qualquer pessoa desconhecida, até prova em contrário, é um potencial ladrão, um terrorista ou um pedófilo. O medo está a condicionar as nossas relações de confiança e afectos com pessoas menos conhecidas.


Noutros tempos, porém, o cumprimento era uma regra geral de bom trato e boa educação. Mesmo a desconhecidos, não se regateava os bons-dias, boas-tardes ou boas-noites, conforme a altura do dia. Esses cumprimentos eram mútuos. Por outro lado, as saudações podiam ainda ser mais íntimas, como o desejar um "até amanhã" ou um simples "até logo". Frequentemente também se saudava com um "como tem passado?" e despedia-se com um "até amanhã, se Deus quiser". Independentemente da crença, este tipo de saudação comportava alguma intimidade e afectividade, mesmo para com pessoas estranhas. Era essa a norma.


Por outro lado, gestos de afectividade, deferência e respeito para com os outros, superiores ou subalternos, e principalmente para com as senhoras e idosos, hoje estão quase perdidos ou em desuso. O gesto de se tirar o chapéu como forma de cumprimento, principalmente perante superiores e senhoras, hoje não passa de uma raridade e até motivo de ridículo, bem como as formas de tratamento, quer verbais quer na escrita.


É, pois, com saudade, que trazemos à memória coisas tão simples como os cumprimentos e as saudações entre pessoas, que no antigamente eram espontâneos e sinais de boa educação e respeito e que hoje se vão tornando raros e confinados a situações de protocolo dos nossos nichos da sociedade, repletos de doutores e engenheiros. Hoje o tratamento por "senhor doutor" ou "senhor engenheiro", mais do que um tratamento de educação, é um formalismo artificial e sempre com alguma segunda intenção em mente, de gozo ou impostorice, de graxa como se costuma dizer.


O resto é o que se sabe e o que se vê: Muita gente mal educada, sem qualquer noção da boa educação e respeito pelos outros. Os velhos livros e manuais de princípios e deveres cívicos estão nos arquivos e quase sempre são conotados com os tempos da velha senhora como se o respeito e a boa educação fossem exclusividades de um tempo e de um status.

A educação hoje fundamenta-se na liberdade e todos sabemos no que dá a zelosa liberdade quanto aos direitos mas escassa e deficiente quanto aos deveres.
Não é de admirar, pois, que seja já uma saudade e uma memória a forma franca e correcta como as pessoas, ainda num passado recente se cumprimentavam e saudavam.

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