Iogurte Longa Vida


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Confesso, desde já, que não sou apreciador nem consumidor de iogurtes. Sei que faço mal, é certo, mas nunca me habituei a estes  produtos, em quaisquer das suas múltiplas variedades. Talvez por não ser habituado desde cedo, numa altura  em que os lanches ou merendas eram à base de pão de milho e caldo com couves e feijão. As lambarices, mesmo que saudáveis, eram produtos fora do alcance das carteiras de quem vivia em constantes dificuldades. É certo que muitas vezes tínhamos o privilégio de beber leite natural mesmo acabadinho de ser colhido na teta dq vaca, mas a prioridade era para entregar o leite no posto de recolha mais próximo, sendo assim uma das poucas fontes de rendimento de quem vivia principalmente das coisas da terra, como era o caso dos meus pais nesses anos onde eu ainda era criança. Claro que aos poucos as coisas foram mudando.

Neste contexto, trago à memória a marca de iogurtes Longa Vida, de modo especial pela recordação de uma das fortes imagens da marca, que é exactamente aquele velhinho ternurento, com cara de Pai Natal, segurando um iogurte Longa Vida, do tempo em que estes eram comercializados nuns tradicionais boiões de vidro. Quem não se lembra das carrinhas de distribuição com este velhinho pintado a toda a largura?
Quanto à origem da Longa Vida, de acordo com texto recolhido em documento de autoria de Jorge Fernandes Alves, L. H. Sequeira de Medeiros e João Cotta Dias, "LEITE E LACTICÍNIOS EM PORTUGAL - Digressões históricas":


(...Em 1957, três lojistas do Porto (dois irmãos e um cunhado – Humberto Leite Tavares de Pinho, Albino Tavares de Pinho e Luís Henriques da Silva), herdeiros de uma leitaria da Praça Carlos Alberto, associaram-se para comprar um terreno em Perafita que trazia associado um alvará de indústria. Começaram a distribuir manteiga e queijo dos Açores, mas quando um deles foi ao dentista, em conversa com este, tomou conhecimento da facilidade em produzir iogurtes, de digestão fácil e alimentação saudável. E o dentista, um cultor de iogurtes domésticos, foi mais longe, emprestando-lhe uma incubadora e os fermentos necessários para uma primeira produção. Foi o incentivo para o arranque em produção industrial, logo agarrada, vindo a dar origem ao iogurte Longa Vida, produto inicialmente de difícil colocação, habitual nas farmácias como remédio, mas despontando depois do 25 de abril como produto de largo consumo, embora algumas unidades industriais portuguesas já o produzissem em Portugal, mas com oferta ainda restrita.)

(... Assim, a pequena leitaria inicial, a Longa Vida, como passou a ser conhecida a empresa depois, distribuía inicialmente os seus produtos lácteos pelo caminho-de-ferro ou por uma carrinha. Alargaria depois a sua capacidade produtiva, dedicando-se paralelamente à batata frita (“Douradas”), apontando-se, em determinada altura, 533 trabalhadores e uma frota automóvel de 220 viaturas, com documentos posteriores a mostrarem que a operação já se fazia com 400 viaturas a operarem a partir de 5 delegações, cobrindo o país em cerca de seis dias. A qualidade alcançada permitiu-lhe tornar-se o distribuidor exclusivo de marcas como Cadbury e Kraft. Em 1993, a Longa Vida foi adquirida pela Nestlé Portugal.)

No decorrer do aumento do mercado dos iogurtes, a Longa Vida foi integrada em 1993 na multinacional Nestlé e hoje é uma das marcas que procura fazer frente à Danone, líder do mercado. Recorde-se que o mercado de iogurtes no nosso país tem vindo sempre a crescer. Em dez anos, triplicou-se a quantidade consumida, passando de 60 mil para 300 mil toneladas. Significa que cada pessoa consome em média entre 16 a 18 kg de iogurte por ano. Claro que como eu sou um dos que não consome, é natural que ande por aí alguém a comer a minha parte. Bom proveito. Mesmo assim ainda estamos longe do consumo de outros países, como a França, por exemplo, onde em média cada pessoa consome 30 Kg anuais. No entanto, com o constante crescimento anual verificado, na ordem de 3 a 4%, vamos a caminho de obter valores semelhantes.

A Longa Vida é vendido tanto no segmento dos iogurtes clássicos, os naturais bem como os de aromas e pedaços. A título de curiosidade, no que se refere a iogurtes de aromas, os preferidos dos portugueses são os de sabor e padaços de morango.

Bom, fica aqui a memória dos iogurtes, da Longa Vida, e de modo especial a imagem clássica do seu velhinho com ar saudável e bonacheirão, a rivalizar bem como o Pai Natal da Coca Cola. Com a mudança de imagem das marcas, aparentemente o saudável velhinho deixou de circular nas carrinhas da distribuição. Outros tempos, outro marketing, outros alvos comerciais onde os iogurtes em termos de imagem são mais conotados com as crianças e com os jovens. Os velhinhos, mesmo que bonacheirões já não vendem.

Comentários

  1. Só para rectificar, a marca Longa vida era de Perafita - Matosinhos, onde trabalhei durante uns bons 14 anos. Hoje infelizmente ao que sei, toda a produção foi desviada para França e a marca tende a ser diluida nas outras do grupo ... e as batatas fritas Douradas e a s Pipocas com chocolate ...ummmm ... que saudades

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  2. Têm toda a razão senhor PBX, é triste ver,e até por vezes, (mt raras), provar os iogurtes da Longa vida. O que eram e o que são hoje. Tb trabalhei 8 anos la e lamento imenso saber ao que chegaram. sem falar no emprego que se perdeu e que lamento ter perdido o meu posto,com isso perdi mts colegas... mts saudades desse tempo tenho..:(

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  3. Que bem me soube ler este texto- grata ao seu autor - e estes dois comentários dos ex funcionários!!!!
    Em 1967 tinha uma amiga de escola cujos pais trabalhavam na Longa Vida e eu conseguia ter acesso a iogurtes mais baratos. Mas era de vez em quando... porque os rendimentos também eram escassos. Que boas memórias!
    Grata a "Santa Nostalgia", a "PBX- Publicidades" e ao Sr. "Anónimo".
    Bem hajam!

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