O Livro da Segunda Classe - Edição de 1958

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Hoje trazemos à memória mais um livro de leitura do ensino primário. Trata-se de um dos populares livros únicos, dos anos 50, edição do Ministério da Educação Nacional, designado de "O Livro da Segunda Classe".

Esta versão aqui retratada refere-se à 6ª edição, impressa em 1958, pela Livraria Bertrand.
Este livro durante muitos anos fez equipa com outros populares livros únicos, alguns já aqui recordados, como "O Livro da Primeira Classe" e o "Livro de Leitura da 3ª Classe", ambos dos anos 50 e que perdurariam durante os anos 60 como livros de referência para tantos alunos portugueses dessas décadas, em pleno Estado Novo.

Tal como os seus companheiros editoriais, este livro é muito bonito, com belas e coloridas ilustrações, contendo leituras várias já adequadas à classe a que se refere e ainda com ensinamentos sobre doutrina cristã e aritmética. Por conseguinte era um livro que servia três propósitos importantes do ensino da altura.

As leituras estão impregnadas de ensinamentos e fundamentos no amor e respeito por Deus, pela família, de modo especial pelos pais e irmãos, pela Pátria bem como pelos usos, costumes e tradições, não esquecendo a terra e os animais. Hoje é uma trilogia abandonada dos manuais escolares e do ensino em geral. O que se tem ganho em liberdades e laicismo perdeu-se em valores morais e hoje o ensino é que se sabe, com muita parra e pouca uva. A sociedade, entregue aos excessos de liberdade, entrou há muito numa espiral de violência, insegurança e desrespeito geral pelo próximo. As coisas não estão para melhorar.

Para além de considerações sobre os aspectos positivos do ensino de então, comparativamente ao actual, não há dúvida que se deduz facilmente que os conteúdos presentes neste livro da segunda classe, hoje apenas se encontram ao nível de um 5º ou 6º anos. Este facto por si só já ilustra algumas diferenças substanciais do ensino ministrado em duas épocas tão diferencias da nossa sociedade. Antes o rigor, a disciplina e a exigência. Hoje, o facilitismo, o deixa-andar e a incompetência e por conseguinte, maus resultados e insucesso.

Para todos, e foram muitos, quantos aprenderam a partir deste belo livro escolar, aqui ficam algumas das suas inesquecíveis páginas, onde cada uma, estou certo, representa um naco de saudades e avivar de memórias arrancadas um dos tempos mais belos da nossa vida: A infância.

(Nota posterior - 18/06/2012): Aquando da publicação do artigo original, porque sem assinatura, desconhecia a autoria das ilustrações. Um dos nossos visitantes, o Carlos Barradas, indicou que seriam de autoria da Maria Keil. Todavia, e porque o estilo não condizia com o que conhecia desta artista recentemente falecida - 10/06/2012 - soube depois por fonte fidedigna, o Luís Filipe de Abreu, excelente artista e conhecedor do meio, que as ilustrações seriam, sem dúvida, de autoria de Mily Possoz. De facto, procurando por imagens relacionadas a esta artista, torna-se claro que o estilo é inconfundível. Está assim desfeita a dúvida inicial).

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Termino com a publicação de um bucólico poema de Francisco Palha, incluso neste livro de leitura da segunda classe:
Avé Maria
No sino da freguesia
Três badaladas ouvi.
Sobre a terra úmida e fria,
De joelhos, mesmo aqui,
Oremos, que é findo o dia,
Avé Maria!
Descendo da serrania,
Já o pastor ao curral
Os fartos rebanhos guia.
De abundância ao de hoje igual,
Dai-lhe amanhã outro dia,
Virgem Maria!
A mãe, que o filho cria,
Já no berço o vai deitar.
Um sono tranquilo envia
Sobre o seu tecto poisar
Até ao romper do dia,
Virgem Maria!
Francisco Palha

Comentários

  1. Memórias...
    ...E uma lágrima veio lentamente, pousar-me no olhar.

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  2. Lindo! Todas as páginas nos trazem saudades. A mim pareceu que os dedos de minha mãe estavam ali paginando aquela maravilha. Tocou-me profundamente as imagens, os versos e a escolha dos textos, o que mais importou foi esse encontro com o passado e a sensação de sentir que meus antepassados estavam lá também.

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  3. Muito obrigada! Gostei imenso. Procurei este livro na net porque sempre me lembro da doçura dos seus desenhos. Não sei ao certo de quem são, mas desconfio que sejam de Mily Possoz (não sei se está bem escrito) pelo menos são muito parecidos com o traço desta pintora....

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  4. Obrigada gostei muito! Foi um voltar atrás no tempo e reavivar a memória, passei a tarde toda a reler o que eu já tinha lido há 59 anos atrás. Os meus filhos estudaram depois do 25 de abril e os Manuais Escolares já não foram os mesmos. Obrigada por me derem esta alegria... arlindaspinola@gmail,com

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  5. São ilustrações da Maria Keil

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  6. Fiquei feliz por voltar a ver este livro, eu tenho o da 3ª classe e minha cunhada tem o da 1ª classe. O meu pai e o meu marido estudaram foi na cartilha Maternal de João de Deus, esse não temos, mas eu já vi na nete.

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  7. Caro Carlos,
    agradeço a visita.
    Agradeço igualmente a informação.
    Todavia, é para mim uma surpresa que as ilustrações do livro em questão sejam da Maria Keil pois de facto é um estilo que lhe não reconhecia. Eventualmente por ser de um outro período.
    Seja como for, considerando a idoneidade da sua informação, é uma boa surpresa.

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  8. Caro Carlos,
    entretanto soube por outra fonte, que o livro em questão terá sido ilustrado por Mily Possoz e não por Maria Keil, como aventou.
    De todo o modo, o seu contributo serviu para aprofundar a questão.

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  9. Elaborando um post sobre a pintora Mily Possoz,encontrei essas imagens do famoso livro da segunda classe neste blogue e tirei algumas imagens com a devida vénia para acompanhar as demais ilustrações e quadros da autoria dela. Sempre é bom enriquecer as informações sobre os artistas.Se quiser vistar o meu blogue, estou a http://lechatdanstousesetats.worpress.com, o blogue está em português e em francês. Estou a ver que Carlos Barradas deu a autoria a Maria Keil, mas na verdade foi Mily Possoz quem ilustrou a 1ª edição do livro da 2ª classe de 1958. Um abraço a Carlos que não vejo há...décadas!

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