Dia dos avós

 

 avos santa nostalgia

 

No Domingo passado, dia 26 de Julho, dia de S. Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora, mãe de Jesus, foi o dia do calendário consagrado aos avós. Os da minha aldeia, a meio da manhã, deslocaram-se em autocarro à cidade da Maia para um encontro designado de "Dia Metropolitano dos Avós", juntando-se a quase 8 mil outros oriundos dos diversos concelhos que integram a área metropolitana do Porto.
Segundo a organização, pretendia-se “celebrar a experiência de vida, reconhecer o valor da sabedoria adquirida, não apenas nos livros, nem nas escolas, mas o convívio com as pessoas e a própria natureza”.


Viu-os regressar, já quase ao final do dia, cansados mas felizes, vestindo ainda a T´Shirt oficial do concelho que representavam.
Evidentemente nem todos participaram, e a minha mãe, viúva de meia-dúzia de meses, avó dos meus dois filhos e de mais 14 netos, preferiu a calma da casa e o aconchego da sua horta, entre o chilreio dos pássaros e o cuidado dos tomateiros, feijão-verde, alface e outras novidades próprias do tempo.


Foi, de facto, um dia merecido para os avós, não só pelo seu passado, pelo reconhecimento comum da  experiência e sabedoria de vida acumuladas mas também pela cada vez maior importância que nos nossos dias representam na valorização da família, uma espécie de âncora dos valores cívicos e morais que uma grande parte dos pais já não conseguem transmitir.
Numa época em que o sentido convencional da família tende a ser menosprezado ou mesmo dissolvido, a favor de relações de facto, e convivências ao sabor de experiências ocasionais, como quem testa no período regulamentar um electrodoméstico ou um aparelho electrónico, com direito a devolver ou trocar se não ficar satisfeito, os avós voltam de novo a ser pais, assumindo tantas vezes a responsabilidade da educação e da guarda dos seus netos, "abandonados" pela excessiva ocupação dos modernos progenitores, logo num período fundamental do seu crescimento, a infância, onde os afectos e a presença constante são modeladores da estabilidade e da definição da personalidade futura.


Por tudo isso, os avós devem ser devidamente reconhecidos cada vez mais, a começar pelos familiares directos e também pela sociedade em geral bem como o próprio Estado. Infelizmente, apesar da sua importância, pelos motivos referidos, não se esperam grandes melhorias já que, cada vez mais, os idosos são abandonados pelos próprios filhos, entregues ao esquecimento, à solidão e quantas vezes à miséria ou então depositados num lar, entregues aos cuidados de terceiros e num desejo de que tudo acabe rápido, sem grandes despesas, canseiras e incómodos para as suas vidinhas pessoais, com lugar para carinhos para um cão ou um gato mas não para um velho incómodo e inconveniente.

Importa reflectir sobre esta questão, social, sem dúvida, mas humana, principalmente. Por outro lado, o que é que se pode esperar de uma sociedade desprendida dos tais valores cívicos e morais de referência, de que constantemente aqui temos falado? Pouco. Muito pouco.

Quanto a mim, já não tenho avós. Os meus avós paternos faleceram com oitenta e tal anos cada, num intrevalo de 2 ou 3 anos, quando eu ainda nem tinha 6 anitos. A minha avó materna faleceu muito cedo, deixando a minha mãe com apenas 3 ou 4 anos. Por isso nem a conheci. O meu avô materno, que depois de viúvo casou em segundas núpcias, faleceu há cerca de oito anos, já com cerca de 85. Neste cenário, de quem guardo mais recordações é do meu avô materno bem como da sua mãe, minha bisavó, da qual já tenho citado am anteriores artigos. Pode-se dizer que a minha bisavó foi a minha segunda mãe já que nos primeiros anos da infância era ela quem muitas vezes substituia os cuidados de minha mãe, ocupada no amanho das terras. É claro que guardo muitas recordações do meu avô materno, até porque foi ele o meu padrinho de baptismo, mas era um homem de humor inconstante e de preferências no trato a alguns dos muitos netos e, na parte que me toca, deixou por cumprir algumas promessas, incluindo a compra de uma bicicleta, a ajuda nos estudos e outras mais triviais. Apesar disso, não lhe guardo qualquer rancor, antes pelo contrário. Nos fins da sua vida, depois de ter encamado devido a uma queda, durante quase dois anos, todos os Domingos cuidava de parte da sua higiene pessoal, fazendo-lhe a barba e aparando-lhe o cabelo, tarefa que tive que fazer pela derradeira vez logo depois de dizer adeus a esta vida terrena. Deixou viúva a sua segunda esposa, madrasta de minha mãe e minha madrinha.
Cada pessoa tem as suas próprias histórias relacionadas com os seus avós e creio que na maior parte dos casos são histórias repletas de boas memórias e nostalgias polvilhades de doces afectos. Mesmo quando algumas das recordações têm um travo de amargura, acredito que as relacionadas aos afectos conseguem ser superiores, afinal, que mais não seja, os avós são uma das bases da nossa existência. Só por isso merecem o maior respeito do mundo.

Oxalá que os netos, que cada vez mais recebem carinho e afecto de tantos avós, saibam e sejam capazes, um dia, de transmitir e retribuir na justa medida esse amor a seus pais, mesmo que estes pouco ou nada fizessem por o merecer. Só por essa via as coisas podem melhorar num futuro que realmente não se prevê optimista, ao nível dos afectos familiares e do respeito pelos mais velhos.

 

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Comentários

  1. cantinhodacasa28/07/09, 19:56

    Olá.
    Fez-me cair uma lagrimita, quando referiu o que fez pelo avô já nos fins da sua vida.
    Penso que os avós de hoje conseguem fazer muito mais pelo netos que os próprios pais, me perdoe.
    Acontece que a vida hoje é muito atribulada ee, embora com excepções, os pais delegam nos avós muitas responsabilidades, quer seja porque têm o trabalho quer seja porque , ao fim de semana até dá jeito ficarem sem os filhos, para poderem sair, conviver.
    Se por um lado concordo, por outro, penso que os avós merecem descanso, merecem que sejam os seus filhos a darem-lhes atenção, carinho e respeito.
    Os avós têm muitas tarefas que os nossos não tinham.
    Os perigos são outros, também.
    Há toda uma panóplia de situações do mundo actual que dificilmente se consegue desligar dela.
    Penso que devemos todos respeitar a individualidade e a privacidade de cada um, seja dos filhos para os pais, seja dos pais para os filhos.
    Em relação ao facto de os filhos deixarem os pais nos lares, muitas das vezes é porque a vida não lhes permite tomar conta deles.
    Uma coisa também é certa. Hoje os nossos pais ainda têm quem tome conta deles, mas amanhã, os nossos filhos terão tempo, situação económica e/ou condições para tomar conta de nós???
    Tempos difíceis, gerações de com vícios, desemprego, pouco civismo...Até onde irá a sociedade?

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  2. cantinhodacasa:
    Está muito fiel o retrato que faz à situação. Concordo que de facto as coisas estão a ficar cinzentas mas, para não escurecermos mais o quadro, temos a obrigação de sermos optimistas e desejar que a sociedade recupere alguns valores pelo menos aqueles que contribuam para um maior respeito pelas pessoas e de modo perticular pelas crianças e idosos, os séniores, como agora é fixe dizer-se.

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